"Guarde somente as coisas que você gosta, materiais, emocionais e espirituais."



Quem ama chama

Minha mãe na juventude foi uma mulher religiosa, porém não muito fanática, assim, como a maioria dos católicos, apenas não faltava às missas de domingo e às vezes participava em alguma quermesse. 
Nossa, que antigo! Vou ter que explicar o que é isso: falando de um modo simples, quermesses eram festas paroquiais, realizadas geralmente no dia do santo padroeiro, compostas por manifestações e comidas típicas, barracas e sorteio de prêmios, semelhante aos “bingos” que realizamos hoje. Olha que eu nem pesquisei no Google... mentira, colei do Wikipédia. He, he, he... 
Ela, minha mãe, teve um problema de saúde e deixou de sair de casa, por isso não me levava à igreja e quando eu estava na idade de fazer a catequese nos mudamos aqui pra Miranda e o tempo foi passando com minha educação religiosa se limitando às orações de Pai Nosso e Ave Maria e o famoso “Santo anjo do Senhor, meu zeloso guardador...” que toda mãe acha que basta pra criança ficar livre dos capirôtos do mundo.
Porém os planos de Deus nem sempre são compreensíveis e não sei por que motivo, causa, razão ou circunstância eu sempre fui muito carola, desde pequenininha. Também desde sempre fui apaixonada pelas músicas do Roberto Carlos, mas uma coisa não tem muita ligação com a outra. Como diz o meu amigo Pe. Paulinho, uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa, a não ser pelo fato dele, o Roberto, ter em seu repertório várias músicas religiosas.
Então voltando no tempo, ainda em São Paulo, me lembro que eu pedia pra minha tia me levar na igreja porque lá eles cantavam algumas músicas do Roberto como “A montanha”, Jesus Cristo”, etc... Isso pra mim era o céu!
Nos anos 80, aqui em Miranda não tinha muitas atrações de diversão e o lugar mais frequentado era o Cine Marabá, localizado onde hoje é o shopping em frente à Praça Agenor Carrilho. Todo domingo na sessão das 19h lotava o cinema e nos dias de semana reprisava o filme do domingo. Mesmo na maioria das vezes já tendo assistido ao filme, os alunos do EERP matavam aula saiam disfarçadamente da escola pra assistir a reprise, pois “valia a pena ver de novo”, não pelo filme, mas pela quebra das regras ditadas pelos pais e professores. Rebeldia natural de adolescente.
Eu, confesso que algumas vezes também consegui escapar do olhar atento da dona “Xepa”, que na época era inspetora de alunos, e fui junto com  a turma pro cinema, mas isso não me dava a sensação de liberdade que eu percebia neles.
No domingo eu também ia ao cinema e quando terminava o filme e eu saía para dar umas voltas na pracinha antes de voltar pra casa via as pessoas saindo da igreja. Isso me dava vontade de estar no meio deles, mas o horário coincidia e se eu deixasse a “turma” pra ir rezar me excluiriam da “tribo”, como um ser de outro planeta que não fala a mesma língua.
Difícil escolha naquela idade, porém pra não pensarem que eu era anormal comecei a dizer que ia ver o filme e entrava na igreja disfarçadamente (como se fosse possível), assistia (hoje participo, o que é diferente) a missa, dava o dinheiro da entrada do cinema no ofertório e voltava pra casa feliz da vida.
Até que um dia minha mãe desconfiou (como mãe descobre essas coisas só fui saber depois que meu filho nasceu) e perguntou como tinha sido o filme.
Ai Jesuis, pensei, e agora?
Então imaginando que minha mãe não conhecesse nada de bíblia comecei a narração:
“Bom, era a história de um carinha que não tava contente em casa e pediu uma grana pro pai e então fugiu com um monte de namoradas, levou uma vida bem legal até que a grana acabou, as mulheres deram no pé e ele voltou pra casa pixado. O pai de tão feliz fez uma “puta” festa (desculpe mas eu falava assim), só que o irmão dele deu pity. Como o pai dele era um cara sabido pádaná ele conseguiu convencer os dois a fazerem as pazes e viveram felizes para sempre.”

Minha mãe, que no meio da história já estava com cara de poucos amigos falou finalmente: “Sei não, tá mais parecendo com a parábola do filho pródigo.”
E eu, com essa carinha de santa que Deus me deu, respondi:
- Pois é, mãe, esses caras de cinema não têm mais ideias novas pra fazer filme e agora começaram até a copiar da bíblia.

Contornei! Rsrsrs.

0 comentários:

Postar um comentário

Gostou? Ainda não acabou...

Gostou? Ainda não acabou...
 
Powered By Blogger | Portal Design By Trik-tips Blog © 2009 | Resolution: 1024x768px | Best View: Firefox | Top
BlogBlogs.Com.Br Web Statistics