"Guarde somente as coisas que você gosta, materiais, emocionais e espirituais."



Feridas

O que acontece quando se está machucado e alguém ou algo toca o machucado? Geralmente sentimos dor e afastamos de nós, o mais rápido possível, o que ou quem tocou a nossa ferida, por vezes estabanadamente, quebrando algo ou até machucando alguém.
Esta mesma reação de defesa acontece, quando alguém ou situação, ativa uma dor emocional ao tocar uma ferida de rejeição ou inferioridade. Se alguém faz alguma coisa, mesmo sem querer, que nos faça sentir ameaçados, imediatamente acionamos todo o nosso arsenal de defesa e ataque.
Você já reparou que quando pegamos muito sol e estamos ardidos, queimados, aí mesmo é que parece que todo mundo resolve nos abraçar e dar tapinhas nas nossas costas? A impressão é que estamos atraindo estes eventos mais do que nunca. Será que estão nos abraçando mais ou será que por estarmos  feridos e mais sensíveis, qualquer toquezinho machuca? Será que perceberíamos a quantidade de abraços se não estivéssemos queimados pelo sol? Provavelmente os abraços são os mesmos. O que mudou foi a nossa condição. Estamos feridos e, portanto, mais sensíveis, mais vulneráveis aos toques. Os mesmos abraços em condições normais seriam até prazerosos e desejáveis. Percebemos, então, que a nossa condição de saúde faz total diferença na maneira como percebemos as relações do mundo exterior com a gente.
É necessário estar atento para distinguir se realmente o outro está nos ferindo ou nós já estávamos feridos quando ele nos tocou.
É extremamente comum atribuirmos culpa aos outros pelas nossas dores. Toda culpa requer castigo ou perdão para aplacá-la. Se perdoamos, nos consideramos magnânimos; se castigamos, nos sentimos “poderosos” e extravasamos, muitas vezes, nosso ódio através da crueldade, nos tornando mais insensíveis à dor dos outros e à nossa própria dor. A crueldade é um tipo de analgésico. E, sem sentir, culpando, condenando e executando a pena sobre os outros, repetidas vezes, ao longo da vida, ficamos cada dia mais anestesiados para as nossas dores e menos sensíveis, deixamos de sentir que elas existem, até que, de novo, alguém venha e as toque.
Observando por este ponto de vista, percebemos que o toque do outro ao despertar a nossa dor é um auxílio, uma ajuda que recebemos do mundo quando não estamos cientes de nossas feridas e, portanto, incapazes de ajudar a nós mesmos nesta questão. A dor que sentimos é um alerta, uma chamada, uma chance para o despertar. Infelizmente, quase sempre, além de desperdiçarmos a nova chance, ainda maltratamos aquele que seria o emissário do alerta, aquele que, mesmo sem saber nos ajudaria a olhar para as partes em nós que precisam de cuidado, de atenção, de cura. E, ao invés de agradecê-lo, lembrando o que disse Jesus: “Amai os vossos inimigos.”, nós o enxotamos, o maltratamos, o culpamos, condenamos e punimos. E, então, voltamos à nossa caverninha, ao nosso isolamento, acreditando que separados e sozinhos estaremos seguros, não sentiremos dor.
A maneira mais saudável de se “evitar” a dor é a cura dos ferimentos. Da mesma forma que fazemos com um dedo machucado ou com a pele queimada de sol, devemos  tratar dos nossos ferimentos emocionais para que eles não se agravem na convivência não saudável com os demais. Para isto é preciso conhecer as nossas dores, saber como foram originadas, que atitudes destrutivas tomamos que não as deixam cicatrizar e mais ainda, assumir a responsabilidade por elas e pelas mudanças que, finalmente, trarão a cura. A nossa saúde é, acima de tudo, nossa responsabilidade  e depende de coragem e disposição para limpar e tratar os traumas, os mal entendidos, as mágoas.
Curando nossas feridas emocionais, a proximidade não soará como ameaça. O isolamento não será mais uma “segurança”. O medo do contato com o outro diminuirá e poderemos desfrutar dos toques e abraços dos outros sem medo e com prazer.
Lisélia de Abreu Marques

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