"Guarde somente as coisas que você gosta, materiais, emocionais e espirituais."



Bons tempos.

Sempre acordo com ideias originais e grandes intenções de mudar o mundo, mas hoje quando abri os olhos me vi... (não, não tenho espelho no quarto, o feng shui jura que espelhos prejudicam o sono, to falando em sentido figurado), me vi... (leia-se, me senti) um pouco saudosista, então vou partilhar com vocês...

Quando eu tinha uns 16 anos o que mais me agradava nos feriados prolongados era viajar, mas naquela época minha sombra havia me abandonado e minha mãe tomado o seu lugar, então o máximo que eu conseguia de distância do lar-doce-lar era passear na fazenda dos Mônaco, no pantanal. Mais longe na concepção da minha mãe “não convinha”. E para ela até hoje “não convém” quer dizer “nem pensar“.

E lá ia, a Miqui e eu, acompanhadas de mais alguns amigos e um sorriso de felicidade que não saia da cara. Lógico, imagina dois ou três dias de total liberdade longe da mamy e do papy.  Yupiiiii!


Foto meramente ilustrativa. Nós viajávamos "dentro" do trem.
A viagem na realidade era mais um tormento do que um prazer, coisa que não percebíamos na época devido à euforia da juventude, e consistia em esperar o trem, passar umas boas horas sentadas num vagão de 2ª classe (adolescente nunca tinha dinheiro), cercados de pessoas de características próprias bem originais, alguns levavam consigo mantimentos, compras que vieram fazer na cidade, etc., e na volta traziam porcos, galinhas, papagaios, periquitos e tudo que se podia ou não imaginar. 
A alegria da convivência nesse trajeto era tanta que passávamos a maior parte do tempo no vagão restaurante ou então andando de um lado para o outro observando se haveria no meio de tanta gente incomum algum “colírio” para os nossos olhos. Vez ou outra encontrávamos um exemplar do sexo oposto que sempre acabava dando disputa para saber para quem ele olharia mais, porém como a viagem era curta não chegava a causar grandes estragos.
Isso tudo eu relato com a visão que tenho hoje porque quando somos jovens tudo é diversão e as dificuldades se tornam motivo de riso. E riso, cantorias e bagunça não faltava, tanto que até hoje, mesmo com a vida tentando me dar rasteiras, ainda conservo alguns traços daquele comportamento. Resumindo, a gente era feliz e não sabia.
Saíamos daqui, quando o trem estava no horário, coisa rara, à uma hora da tarde e chegávamos na estação/destino com o por do sol. Não era o fim da viagem, ainda tínhamos que fazer uma caminhada até a sede da fazenda.
Quando dava pra avisar com antecedência, os peões levavam alguns cavalos ou um trator para nos buscar, mas era difícil a comunicação, então o lance era andar no meio do pasto e rezar pra que a lua clareasse o caminho.
Agora fico imaginando... Porque será que a gente não levava uma lanterna? Ou uma arma para o caso de aparecer uma onça não muito amistosa... Ah, isso nem passava pela cabeça.

Em um desses feriados, por causa do pantanal estar em época de seca trocamos a viagem de trem por uma agradável aventura na carroceria de uma caminhonete C10.
Naquele tempo a gente podia sim andar na carroceria dos veículos sem os cuidados inúteis que nos impõem hoje em dia. Também era comum andar de bicicleta sem capacete...
Miqui andando de bike na estrada.
E não usávamos joelheiras para descer as ladeiras de patins ou qualquer outra proteção para pilotar carrinhos de rolimã. 

Não sei como sobrevivemos a tanto “perigo”.

Mas voltando ao passeio, neste dia, espremidas entre caixas e tambores de óleo estávamos completamente felizes. O sol das 2 da tarde em pleno verão sul mato grossense queimava nossos rostos, mas o vento nos refrescava a pele e só notamos as queimaduras já na fazenda, quando uma olhou pra outra com cara de “ai meu Deus, você virou camarão”.
Acha que esquecemos o filtro solar? Que nada, o máximo que usávamos para tomar sol era óleo de soja com beterraba e coca-cola e uma mangueira de água pra esfriar o corpo, no fundo do quintal, onde o muro alto nunca foi empecilho para o deleite dos moleques da vizinhança, que se contentavam em nos apreciar dentro de um maiô que cobria muito mais que as roupas de baladas que nossas filhas usam hoje em dia.
Mas nesse dia não tínhamos passado nosso “bronzeador”. Que fazer? A mãe da Miqui mandou que a gente usasse Maisena dizendo que ia refrescar a pele. Uhm Hum, ôôô!
O resultado foi três dias de ardência na pele onde nem abraço era bem vindo.
Mas o pior ainda estava por acontecer...
A pele começou a se soltar aos poucos, ficando metade bronzeada e metade cor de lagartixa de parede.

Imagina uma adolescente que morre de vergonha de uma simples espinha no rosto ter que voltar pra escola com a cara inteira parecendo uma cobra descascada.

Tempos bons aqueles!

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