"Guarde somente as coisas que você gosta, materiais, emocionais e espirituais."



Desapego


Há algum tempo atrás eu pensava ter perdido tanta coisa, pessoas, momentos...
Talvez essa ideia tenha me deixado egoísta por um lado e cuidadosa de outro.
Egoísta por me isolar demais e cuidadosa por tentar proteger um pouquinho do restava.

Mas depois de muito lamentar pude perceber que as pessoas realmente importantes continuam comigo e os momentos estão aí para serem vividos.

Aqueles que lamentei por perder ou que temia perder, os quais eu nunca me imaginei viver sem, se foram e eu continuo vivendo da mesma maneira.
Aqueles que foram importantíssimos em outro contexto, agora já não fazem falta.
Fizeram o papel que deviam ter feito, preencheram espaços e acrescentaram algum ensinamento, ajudaram e foram ajudados e depois na hora certa se foram.

Talvez eu deva entender certos propósitos antes de fazer um drama, afinal pra que tentar segurar o que não é mais necessário?

Estou deixando partir o que não me pertence mais. Deixando seguir o que não poderá voltar.
O que foi não dá mais, é passado.
E o futuro está esperando pra ser vivido com qualidade e competência.

Afinal eu não tenho do que reclamar, tenho tudo o que preciso, não tudo o que gostaria de ter, mas tudo o que preciso.

Estou aprendendo a viver com e sem, e isso me prepara para o que ainda pode vir por aí.


Bons tempos

Sempre acordo com ideias originais e grandes intenções de mudar o mundo, mas hoje quando abri os olhos me vi... (não, não tenho espelho no quarto, o feng shui jura que espelhos prejudicam o sono, to falando em sentido figurado), me vi... (leia-se, me senti) um pouco saudosista, então vou partilhar com vocês...

Quando eu tinha uns 16 anos o que mais me agradava nos feriados prolongados era viajar, mas naquela época minha sombra havia me abandonado e minha mãe tomado o seu lugar, então o máximo que eu conseguia de distância do lar-doce-lar era passear na fazenda dos Mônaco, no pantanal. Mais longe na concepção da minha mãe “não convinha”. E para ela até hoje “não convém” quer dizer “nem pensar“.

E lá ia, a Miqui e eu, acompanhadas de mais alguns amigos e um sorriso de felicidade que não saia da cara. Lógico, imagina dois ou três dias de total liberdade longe da mamy e do papy.  Yupiiiii!


Foto meramente ilustrativa. Nós viajávamos "dentro" do trem.
A viagem na realidade era mais um tormento do que um prazer, coisa que não percebíamos na época devido à euforia da juventude, e consistia em esperar o trem, passar umas boas horas sentadas num vagão de 2ª classe (adolescente nunca tinha dinheiro), cercados de pessoas de características próprias bem originais, alguns levavam consigo mantimentos, compras que vieram fazer na cidade, etc., e na volta traziam porcos, galinhas, papagaios, periquitos e tudo que se podia ou não imaginar. 
A alegria da convivência nesse trajeto era tanta que passávamos a maior parte do tempo no vagão restaurante ou então andando de um lado para o outro observando se haveria no meio de tanta gente incomum algum “colírio” para os nossos olhos. Vez ou outra encontrávamos um exemplar do sexo oposto que sempre acabava dando disputa para saber para quem ele olharia mais, porém como a viagem era curta não chegava a causar grandes estragos.
Isso tudo eu relato com a visão que tenho hoje porque quando somos jovens tudo é diversão e as dificuldades se tornam motivo de riso. E riso, cantorias e bagunça não faltava, tanto que até hoje, mesmo com a vida tentando me dar rasteiras, ainda conservo alguns traços daquele comportamento. Resumindo, a gente era feliz e não sabia.
Saíamos daqui, quando o trem estava no horário, coisa rara, à uma hora da tarde e chegávamos na estação/destino com o por do sol. Não era o fim da viagem, ainda tínhamos que fazer uma caminhada até a sede da fazenda.
Quando dava pra avisar com antecedência, os peões levavam alguns cavalos ou um trator para nos buscar, mas era difícil a comunicação, então o lance era andar no meio do pasto e rezar pra que a lua clareasse o caminho.
Agora fico imaginando... Porque será que a gente não levava uma lanterna? Ou uma arma para o caso de aparecer uma onça não muito amistosa... Ah, isso nem passava pela cabeça.

Em um desses feriados, por causa do pantanal estar em época de seca trocamos a viagem de trem por uma agradável aventura na carroceria de uma caminhonete C10.
Naquele tempo a gente podia sim andar na carroceria dos veículos sem os cuidados inúteis que nos impõem hoje em dia. Também era comum andar de bicicleta sem capacete...
Miqui andando de bike na estrada.
E não usávamos joelheiras para descer as ladeiras de patins ou qualquer outra proteção para pilotar carrinhos de rolimã. 

Não sei como sobrevivemos a tanto “perigo”.

Mas voltando ao passeio, neste dia, espremidas entre caixas e tambores de óleo estávamos completamente felizes. O sol das 2 da tarde em pleno verão sul mato grossense queimava nossos rostos, mas o vento nos refrescava a pele e só notamos as queimaduras já na fazenda, quando uma olhou pra outra com cara de “ai meu Deus, você virou camarão”.
Acha que esquecemos o filtro solar? Que nada, o máximo que usávamos para tomar sol era óleo de soja com beterraba e coca-cola e uma mangueira de água pra esfriar o corpo, no fundo do quintal, onde o muro alto nunca foi empecilho para o deleite dos moleques da vizinhança, que se contentavam em nos apreciar dentro de um maiô que cobria muito mais que as roupas de baladas que nossas filhas usam hoje em dia.
Mas nesse dia não tínhamos passado nosso “bronzeador”. Que fazer? A mãe da Miqui mandou que a gente usasse Maisena dizendo que ia refrescar a pele. Uhm Hum, ôôô!
O resultado foi três dias de ardência na pele onde nem abraço era bem vindo.
Mas o pior ainda estava por acontecer...
A pele começou a se soltar aos poucos, ficando metade bronzeada e metade cor de lagartixa de parede.

Imagina uma adolescente que morre de vergonha de uma simples espinha no rosto ter que voltar pra escola com a cara inteira parecendo uma cobra descascada.

Tempos bons aqueles!

Tia, o que é orgasmo?

Em plena Fecir, a filha de uma amiga, sem nenhuma preliminar, me pergunta: “Tia, o que é orgasmo?”.
Não, não era a música que vinha do palco, não era alucinação, ela estava mesmo ali, passeando de mãos dadas comigo com a carinha mais inocente do mundo. 
Resisti à vontade de responder “Vai perguntar pra sua mãe” e tentando ficar calma e disfarçar o rosto vermelho perguntei de volta “Onde você escutou isso, princesa?”.
“Na televisão”, respondeu ela, alheia ao meu constrangimento.
Crianças na primeira infância, às vezes, nos colocam em cada situação inusitada que dá vontade de enfiar a cabeça no primeiro buraco de asfalto que encontrar, mas vamos lá, não posso decepcionar e nem traumatizar a garota. 
Fiz cara de foca displicente e respondi: “É quando alguém explode de alegria”.
Foi o que eu achei mais adequado no momento e graças a Allah ela se deu por satisfeita e simplesmente concluiu: “Ah, sei, quenem quando o tio te deu aquele celular novo, né?”.
Pois é!

Testemunha de Jeová

Meu pai era muito espirituoso e sempre que tinha oportunidade fazia uma graça.
Um dia perguntaram pra ele qual era sua religião. Muito sério ele disse que foi testemunha de Jeová.
Diante da reação de espanto da pessoa com quem conversava ele completou: “É sério eu fui testemunha no casamento do meu irmão...”
Pra quem não sabe o irmão dele se chamava Jouval.
Taí a foto da cerimônia pra confirmar o acontecimento.

O cãozinho fazendo sauna

Eu havia terminado de fazer o almoço e sobrara um tempinho antes do mais-que-tudo chegar, então resolvi fritar umas batatas. Ele adora batata frita e bife acebolado, simples assim e cheio de colesterol. Sou adepta da comidinha mais light, porém hoje resolvi abrir uma exceção pra agradá-lo. Olhei na geladeira só havia duas batatas já murchas, então saí pra ir ao mercado aqui pertinho para comprar outras mais fresquinhas.
Ao sair no portão escutei o latido de um cãozinho, num tom de choro suplicante. É os animais se comunicam emitindo sons e embora as sílabas pareçam iguais e repetitivas, a tonalidade, a entonação, ritmo e intensidade demonstram situações diferentes de medo, raiva, alegria e outros sentimentos que pensamos só existir em seres humanos.
Eu já disse aqui que animal também é gente, uma frase literalmente errônea, mas que uso para dar ênfase a algumas virtudes deles como sensibilidade, amizade, fidelidade, etc... Qualidades e princípios que alguns humanos deixaram de exercitar.
Prestando um pouco de atenção logo percebi que o pedido de socorro vinha de dentro de um carro estacionado em frente de casa, no sol e com os vidros todos fechados.
Um cãozinho estava trancado dentro daquela lata velha do automóvel desgastado pelo tempo, quase torrando no calor abafado, como que assando dentro de um forno...  e nem sinal do dono.
Cheguei mais perto e notei o quanto era lindo o filhotinho, branco e preto, de orelhas enormes e pelo médio, língua de fora e suando muito. Cães transpiram pela língua, ou você não sabia?
Tentei abrir a porta do carro, estava trancada por dentro, chamei o frentista do posto ao lado e ele não sabia quem havia estacionado ali, mas me lembrou da história que assistimos na tv onde um pai esqueceu o filho pequeno no banco de trás do carro e a criança acabou morrendo.
Ele forçou a ventarola (para os mais novos: ventarola é aquele vidrinho pequeno que fica ao lado do vidro da porta dos carros mais antigos) e ela se abriu deixando sair um pouco do ar quente e refrescando um pouco o interior do veículo. O filhote parece ter sorrido abanando o rabinho.
Procuramos pelo dono e nada ainda dele aparecer, fiquei revoltada e tentando conter a indignação, coloquei a mão por dentro do vidro alcançando a maçaneta interna. Consegui abrir a porta, decidida a acabar com o sofrimento do bichinho, peguei uma vasilha, coloquei água e dei pra ele beber. Ele tomou quase tudo, ás pressas. Notei que ele ficou bem, encostei a porta do carro deixando o vidro entreaberto e fui “cuidar” das batatas que até então havia me esquecido.
Depois de algum tempo, lá de casa pude escutar o barulho do carro funcionando, não me contive e saí no portão.
De dentro do carro um casal e três ou quatro crianças me olharam com cara de poucos amigos enquanto o veículo se afastava rangendo a lataria. O cachorrinho com as patas na janela do carro parecia feliz.
Eu disfarcei, dei de ombros e, rindo por dentro, imaginei que se as batatas da minha geladeira não estivessem estragadas nessa hora o cachorrinho estaria morto ou pelo menos muito desidratado.
Alguns contratempos acontecem para dar prosseguimento no ciclo da vida.
Mas que tem muita gente sem noção isso tem.

Um mouse diferente


Quatro horas da manhã e acordo num sobressalto com um barulho de dentes rangendo. 
Penso: será que o mais-que-tudo está sonhando que foi num churrasco? Olho pro lado e o bonitinho dormindo como um anjo. 
Quando de repente me deparo com, imaginem só... as hélices do ventilador girando. Não, não estou louca, a admiração vem por ele não estar conectado na tomada. 
Seria uma noite de terror, com direito a fantasmas e objetos inanimados tomando vida simplesmente para me assustar?
Firmo os olhos e percebo um ser vivo querendo se livrar das grades do ventilador. Ele entrou não sei como e tentava sair, mas ele também não sabia de que jeito.
Quando me caiu a ficha (essa frase “cair a ficha” é bem antiga, do tempo em que telefone se chamava orelhão e ficava fixo nas ruas e não dentro da bolsa. Ah, ainda existe? Tá mas ninguém usa)... continuando, quando entendi que aquele vulto se mexendo era um animal roedor da família dos murídeos, pertencente ao gênero Rattus e encontrado em toda parte do mundo , menos na minha casa, eu dei um grito estridente que imagino ter acordado a vizinhança num raio de uns dois quarteirões.
Meu marido deu um pulo e eu gritei que tinha um rato enooooorme dentro do ventilador. 
Detalhe, ele estava ao meu lado e o grito fez com que ele apertasse os olhos num gesto de incômodo sonoro, porém ele tentou me acalmar dizendo gentilmente “cala a boca” e numa fração de segundos pegou alguma coisa, que não vi no momento que era um chinelo e arremessou contra o ventilador.
Será que ele achou que ia matar o rato com uma chinelada? Alow ow, não é barata, é rato. Tudo bem, ele fez o que pode e o rato conseguiu se livrar da prisão, saiu meio zonzo, mancando de uma das patinhas e se escondeu no outro quarto.
Meu marido fez menção de ir atrás e eu gritei de novo: -“Não vai matar o bichinho!”
Ele (o Edenilson, não o rato) me olhou com cara de quem não estava entendendo nada e eu expliquei: “Rato também é um ser humano (ô ow). Tá, tá bom, não é, mas esse aí é tão bonitinho, deixa ele comigo”.
Imagina se eu vou permitir que alguém mate um animal na minha frente!
Fui lá fora e peguei um pano de chão na intenção de capturar o ratinho fofinho e levá-lo pra longe dali. Quando voltei a Mirna, minha gata caçula estava fazendo as honras da casa, dando as boas vindas ao ratinho assustado e tonto da chinelada. Ela estava adorando brincar com o novo amiguinho que, nessa altura dos acontecimentos, se encontrava preso em alguns fios deixados no chão pelo meu marido ou filho.
Me enchi de coragem e com o pano enrolado nas mãos peguei o rato, para levá-lo para fora de casa.
Meu marido ainda ameaçou, “se não matar ele vai voltar”.
Fingi não ouvir, virei as costas e saí pelas ruas para levá-lo o mais longe possível e deixá-lo perto de um bueiro. Dizem que ratos vivem em bueiros, quem sabe ele encontra algum conhecido e resolve morar por lá.
Ao voltar pra casa encontrei meu marido com jeito de bravo por ter sido acordado numa situação tão inusitada e minha gata com carinha de decepcionada por perder o “brinquedo”.
Dei um sorriso de quem não tem nada com isso e fui fazer um café... instantâneo que o convencional eu vou tomar quando amanhecer o dia, na casa da mamy. 
(Escrito por Eliane em 21 de Setembro de 2011)

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